História da Maratona: da Grécia Antiga aos Dias de Hoje

A maratona é uma das provas mais emblemáticas do esporte, representando resistência, superação e história. Suas origens remontam à Grécia Antiga, quando o soldado Filípides, segundo a lenda, percorreu cerca de 42 km entre as cidades de Maratona e Atenas para anunciar uma vitória militar. Este relato inspirou a inauguração da maratona moderna nos Jogos Olímpicos de 1896, em Atenas, criando um símbolo de ligação entre passado e presente.

Ao longo dos séculos, a maratona evoluiu não apenas como competição esportiva, mas também como evento cultural e social. Com o aumento significativo de participantes de diferentes perfis – desde atletas de alto rendimento até corredores amadores – a prova ganhou dimensões globais. Hoje, são centenas de maratonas ao redor do mundo, com destaque para as Six Majors, que atraem atenção internacional e consolidam a distância como desafio universal.

Este artigo traça a trajetória da maratona em 2025, revisitando suas origens épicas, marcos históricos, pioneiros que transformaram a prova, e a evolução técnica e social que a tornou um evento para todos. Finalizamos destacando principais tendências e curiosidades que moldam a maratona contemporânea.

Origens na Grécia Antiga

A lenda de Filípides é o ponto de partida da maratona. Conta-se que ele percorreu cerca de 240 km entre Atenas e Esparta para pedir auxílio na batalha contra os persas. Após a vitória, teria corrido de Maratona a Atenas para entregar a notícia, falecendo logo após a missão cumprida. Essa história inspirou o nome da prova e seu percurso original. Embora os relatos variem, há consenso sobre a inspiração heroica.

Na Grécia Antiga, corridas eram comuns em celebrações religiosas e em jogos como as Panateneias. Nada comparado à distância da maratona, mas mostravam apreço pela corrida. Os Jogos Olímpicos antigos (776 a.C. até 393 d.C.) não incluíam essa prova, mantendo corridas mais curtas dentro do estádio. A maratona só ressurgiu em 1896, sugerida por Michel Bréal para celebrar a história grega.

Essa transição da lenda para a competição moderna marca o início de uma prova simbólica. A inspiração clássica conferiu prestígio desde o primeiro evento, e até hoje a maratona mantém uma conexão cultural e histórica com sua origem épica.

Vista da Acrópole de Atenas com o Parthenon ao entardecer.
Atenas, berço da maratona, onde a lendária corrida de Fidípides inspirou a criação da prova.

A maratona nos primeiros Jogos Olímpicos modernos

Quando os Jogos Olímpicos foram revitalizados em 1896, a prova da maratona foi incluída como tributo à Grécia. O percurso entre a antiga Maratona e o Panathenaic Stadium, em Atenas, media aproximadamente 40 km. O grego Spiridon Louis venceu a prova, tornando-se herói nacional.

Essa edição marcou a institucionalização da maratona moderna. Desde então, atletas começaram a treinar especificamente para essa distância, e a prova passou a ser disputada em edições seguintes das Olimpíadas. A popularidade cresceu, atraindo atenção da imprensa e do público.

Logo as maratonas passaram a ocorrer em outras cidades, não apenas durante os Jogos. A estreia da prestigiosa maratona de Boston, em 1897, contribuiu para solidificar o evento como competição internacional. A adição da maratona ao calendário esportivo desenvolveu o treinamento, a nutrição e as estratégias de prova que conhecemos hoje.

Evolução da distância e padronização

A distância oficial de 42,195 km só foi padronizada em 1921, após ajustes na maratona olímpica de 1908, em Londres, onde o percurso foi estendido para acomodar a família real. Desde então, a distância consolidou-se e é seguida mundialmente.

A definição exata permitiu comparações justas entre resultados, melhorou as estratégias de treinamento e fortaleceu o caráter competitivo da prova. Hoje, corridas em todo o mundo seguem esse padrão, seja em grandes centros urbanos ou em eventos locais. Além disso, a padronização levou ao desenvolvimento de recordes oficiais e rankings internacionais.

A partir da padronização, marcas passaram a ser documentadas com maior confiabilidade. Os corredores passaram a treinar com precisão para a distância específica, desenvolvendo métodos como treinos longos, ritmos progressivos e ciclos de preparação. A ciência esportiva também contribuiu com estudos sobre hidratação, glicogênio e recuperação, elevando o nível da prova.

Com a padronização da distância, a maratona firmou-se como símbolo de resistência física e planejamento. Essa clareza técnica permitiu que a prova se expandisse para o mundo todo e se tornasse referência tanto em desafios pessoais quanto em competições de elite.

A maratona e os primeiros recordes históricos

Com a padronização da distância, os registros de tempo ganharam relevância, dando início à busca pelos recordes mundiais. As primeiras marcas masculinas foram documentadas em terrenos variados, com pouca padronização técnica. O avanço da cronometragem e das condições de prova permitiu, ao longo do século XX, que os tempos caíssem progressivamente.

O primeiro recorde reconhecido pela IAAF (atual World Athletics) foi o do americano Johnny Hayes, em 1908. Desde então, atletas como Abebe Bikila (o etíope que venceu descalço em Roma, 1960), Frank Shorter, Carlos Lopes e mais recentemente Eliud Kipchoge tornaram-se ícones do progresso na modalidade.

No feminino, a maratona foi incorporada tardiamente ao programa olímpico, apenas em 1984. Mesmo assim, nomes como Joan Benoit, Grete Waitz e Paula Radcliffe revolucionaram a participação feminina e estabeleceram marcas históricas.

Com o tempo, os recordes passaram a ser alvo de estratégias específicas: percurso plano, clima ideal, pacers, hidratação programada e controle da fadiga. A quebra das duas horas por Kipchoge, ainda que em condições não homologadas, simboliza a evolução técnica e fisiológica da maratona.

Maratona feminina: inclusão, resistência e protagonismo

Durante décadas, mulheres foram proibidas de competir oficialmente em maratonas. A justificativa era baseada em preconceitos fisiológicos. No entanto, em 1966, Kathrine Switzer desafiou essa exclusão correndo a Maratona de Boston com número de inscrição masculino. Sua participação marcou o início da mudança.

A maratona feminina estreou oficialmente nas Olimpíadas de Los Angeles em 1984, com vitória de Joan Benoit. Desde então, o crescimento da participação feminina foi exponencial. Hoje, as mulheres representam em média 40% dos corredores em maratonas ao redor do mundo.

Além da presença numérica, o desempenho feminino evoluiu fortemente. Em 2003, Paula Radcliffe estabeleceu o recorde de 2h15min25s, mantido por 16 anos. Em 2023, Tigst Assefa surpreendeu com 2h11min53s, reduzindo drasticamente a melhor marca mundial.

A participação feminina trouxe também impactos sociais: campanhas de empoderamento, maior visibilidade para o esporte feminino e criação de eventos exclusivamente para mulheres, como a Maratona da Mulher em Paris. A maratona tornou-se um símbolo de superação física e de igualdade de oportunidades entre os gêneros.

Maratonas icônicas e a globalização do evento

Multidão de corredores com camisetas azuis participando de uma maratona.
Grande maratona contemporânea com milhares de participantes, exemplo do crescimento do esporte.

Com a expansão da maratona para o cenário internacional, algumas provas se tornaram verdadeiros marcos no calendário esportivo. As Six Majors (Boston, Londres, Berlim, Chicago, Nova York e Tóquio) reúnem milhares de corredores e milhões de espectadores, com alta cobertura da mídia e forte patrocínio.

Cada uma tem características únicas:

  • Boston é a mais antiga (1897), famosa pelas subidas de Heartbreak Hill.
  • Londres se destaca pelo percurso plano e pela grande participação popular.
  • Berlim é conhecida por seus recordes mundiais, graças à altimetria favorável.
  • Chicago mistura história e modernidade, com temperatura ideal em outubro.
  • Nova York, com suas cinco pontes e energia vibrante, é a mais diversa.
  • Tóquio traz o toque da organização japonesa e crescente relevância na Ásia.

Além dessas, maratonas em cidades como Paris, Roterdã, Buenos Aires e Rio de Janeiro também ganham força. A globalização facilitou o turismo esportivo e estimulou a realização de eventos em locais inusitados, como no deserto do Saara, Antártica e muralha da China.

A maratona tornou-se evento internacional, democrático e inclusivo, com provas para elite, cadeirantes e corredores amadores. Ela transcendeu o esporte e tornou-se uma celebração da humanidade em movimento.

Inovações tecnológicas na preparação e no desempenho

A história da maratona também é marcada por inovações que transformaram o modo como atletas se preparam e competem. O uso de tecnologias avançadas elevou o rendimento e a segurança dos corredores. Hoje, é comum o uso de relógios com GPS, sensores de frequência cardíaca e aplicativos que monitoram ritmo, distância e recuperação em tempo real.

Além dos dispositivos, os calçados ganharam protagonismo. Tênis com placas de carbono e espumas responsivas ajudaram a melhorar a economia de corrida. Modelos como os usados por Kipchoge em suas provas históricas geraram debates e, posteriormente, regulamentações por parte da World Athletics.

A nutrição esportiva também evoluiu. Géis energéticos, isotônicos personalizados, planejamento de ingestão calórica durante a prova e estratégias de hidratação são parte do dia a dia dos maratonistas. A ciência por trás da maratona hoje é robusta, envolvendo fisiologistas, treinadores, nutricionistas e psicólogos.

Essas inovações não beneficiam apenas a elite: amadores têm acesso a recursos tecnológicos e informações antes restritas. A democratização do conhecimento e das ferramentas tornou a maratona mais acessível e segura, elevando o nível de performance geral e a longevidade dos praticantes na modalidade.

Maratona como símbolo de superação e transformação pessoal

Mais do que um evento esportivo, a maratona tornou-se um marco na vida de milhões de pessoas. Muitos corredores iniciam a jornada motivados por desafios pessoais: perda de peso, superação de doenças, recuperação emocional ou metas de vida. Correr 42 km passou a simbolizar a vitória sobre obstáculos internos e externos.

Histórias inspiradoras de corredores que venceram o câncer, superaram depressão ou iniciaram a corrida após os 60 anos tornaram-se comuns. As redes sociais amplificaram essas narrativas, criando uma comunidade global de apoio, motivação e celebração.

Eventos como a Maratona de Nova York promovem campanhas sociais e causas humanitárias. Muitos corredores participam arrecadando fundos para instituições de caridade ou homenageando entes queridos. A maratona tornou-se palco para causas que vão além da linha de chegada.

O símbolo da medalha, do esforço coletivo nos treinos, da linha de chegada e da superação diária transformou a maratona em um ritual moderno de autodescoberta. Em 2025, ela permanece como um dos poucos eventos esportivos em que atletas de elite dividem espaço com amadores, reforçando a universalidade da experiência humana de correr em busca de algo maior.

Maratonas temáticas e experiências únicas

A evolução da maratona também deu origem a eventos temáticos que combinam esporte, cultura e entretenimento. Essas provas, além de atrair corredores em busca de performance, também conquistam quem busca vivências diferenciadas. Maratonas temáticas apostam em ambientações criativas, vestimentas personalizadas e atrações culturais ao longo do percurso.

A Maratona da Disney, por exemplo, permite correr entre os parques da franquia, com personagens interagindo com os participantes. Já a Maratona de Medoc, na França, oferece degustações de vinho e pratos típicos a cada quilômetro, misturando desafio e celebração gastronômica. Há também a Maratona da Muralha da China, uma das mais desafiadoras do mundo por seu percurso com milhares de degraus e altitude variável.

Essas provas promovem a democratização da corrida ao atrair perfis variados, inclusive iniciantes e famílias. Muitas oferecem modalidades alternativas, como meias-maratonas, revezamentos ou caminhadas, ampliando o acesso e a participação.

Além disso, reforçam o turismo esportivo e a economia local, gerando impacto positivo em hotelaria, gastronomia e comércio. As maratonas temáticas mostram que correr pode ser, além de saudável, uma experiência memorável, lúdica e transformadora. Em 2025, essas corridas ganham ainda mais espaço, promovendo bem-estar, cultura e diversão.

Conclusão

Pessoas correndo juntas em uma prova de rua durante o dia.
Corredores participando de uma prova de rua, mostrando o espírito coletivo das maratonas modernas.

A trajetória da maratona ao longo dos séculos é um reflexo da evolução humana – de uma lenda grega à corrida mais icônica do planeta. A prova que começou como homenagem a um feito heroico, transformou-se em símbolo de superação física, mental e social. A maratona atravessou impérios, revoluções e transformações culturais, mantendo-se atual, desafiadora e universal.

Sua história é rica em personagens que quebraram barreiras, desafiaram estigmas e elevaram o esporte a patamares históricos. Da Grécia de Filípides às ruas de Berlim, Tóquio ou Boston, cada edição representa mais que um desafio de 42 km: representa milhares de jornadas pessoais e coletivas. A maratona acolhe desde atletas olímpicos até pessoas comuns que, movidas por metas emocionais ou causas sociais, encontram na corrida um meio de transformação.

Em 2025, a maratona segue evoluindo com o auxílio da tecnologia, da ciência do esporte e da inclusão. Mais acessível, mais diversa e mais conectada do que nunca, ela mantém vivo o espírito de quem correu por um ideal – e continua inspirando milhões a fazer o mesmo.

Seja para vencer limites, contar uma história ou simplesmente cruzar a linha de chegada, a maratona seguirá sendo uma celebração do corpo, da mente e da vontade humana de ir sempre além.

Referências